PRELÚDIO DA ETERNIDADE.
Abelardo Domene Pedroga
Ao
terminar de ditar meu relatório para o computador de bordo parei em minha mesa,
pensando seriamente nas decisões que havia tomado, a borda da GALÍPOLI, os
tripulantes passavam de relance me enviando olhares de desaprovação, eu havia
negado a todos, inclusive a min mesmo, uma dádiva
muito procurada pelos seres humanos ao longo dos milênios de
história das mais diversas e variadas raças e povos.
Lembrei-me
dos gregos e suas lendas maravilhosas, a Ambrosia, o manjar dos deuses negado
aos humanos, lembrei-me dos obscuros alquimistas a viver décadas trancados em
seus laboratórios tentando alcançar aquilo que estivera em nossas mãos.
Também
me lembrei dos antigos cientistas dos séculos XIX até o XXI procurando em vão
pela molécula de DNA que poderia brindar nossa espécie com aquele tão decantado
segredo.
Lembrei-me
de nossa partida, há 15 anos atrás, nossa missão era explorar o cosmos, com uma
tripulação composta por 600 pessoas, sendo 300 masculinos e 300 femininos,
iniciamos uma missão cuja duração seria de 100 anos, a intenção era que nossos
filhos ou netos terminassem a missão retornado á nossa velha e querida Terra.
Todos
sabiam que nunca voltariam a ver nosso planeta natal, mas mesmo assim houve
dificuldades para se formar a tripulação deste nave, a quantidade de inscritos
atrasou o início do projeto em 02 anos, pois todos os inscritos foram
analisados e testados, apenas os melhores foram os escolhidos.
Nossa
nave era experimental, pela primeira vez ousamos acelerar além da velocidade
luz, o novo conceito de deslocamento hexadimensional nos permitia acelerar
infinitamente, a velocidade final era desconhecida, nos momentos de maior
velocidade conseguimos alcançar 34.560 vezes a velocidade luz.
A
pesquisa em nosso sistema solar era desnecessária, já conhecemos bem os
planetas em volta, nossas pesquisas se iniciaram em Alfa Centauri, aonde
descobrimos, para nosso espanto, uma infinidade de planetas habitados, os
contatos foram amistosos, os povos que descobrimos, na grande maioria, ou
estavam em estágios muito atrasados no seu desenvolvimento, nos confundindo com
deuses e outras entidades, ou estavam muito acima, apresentando uma cultura
muito mais antiga que a nossa alcançando um ponto em que a necessidade do corpo
físico se faz desnecessária utilizando apenas as fontes mentais e espirituais
de existência.
Nossa
odisséia em Alfa Centauri demorou exatos 10 anos, os catálogos que fizemos
seriam objeto de interesse e estudo aprofundado por parte de nossos cientistas.
Além disso as informações que gravamos nos registros dos computadores sobre os
povos desta região dariam material para estudos demorados e reveladores.
A
próxima região visitada era o que chamamos sistema estelar Vega, também
encontramos alguns planetas habitados e uma infinidade desabitado nos quais
havia matéria prima em abundância um futuro e promissor campo para a futura
exploração espacial cujos planos seriam traçados tão logo nossa nave voltasse
para a Terra, uma coisa nos chamou a atenção, descobrimos um sistema planetário
cujos nativos denominam Tetra, os tetras eram um povo gentil, cordial e para
nossa surpresa muito velho, não havia crianças entre os tetras, acreditamos que
esta raça estaria condenada á extinção em pouco tempo, ao conseguirmos traduzir
o seu idioma ( estranhamente o mesmo apresentava alguma similaridade com o
idioma falado no
Egito Antigo, outra
incógnita que os cientistas do futuro teriam de se debruçar ), descobrimos que
os tetras não tinham mais crianças por vontade própria.
Perguntados
sobre o futuro de sua raça, visto que não havia renovação, estes nos disseram
que os antigos deuses haviam oferecido condições para essa perpetuação
concedendo aos tetras a benesse da vida eterna.
Aquilo
nos chamou a atenção, "vida eterna"? Mas como isso? Mas o segredo
nunca poderia ser divulgado pelos tetras, a única indicação que nos deram é que
a resposta estaria no sistema estelar tríplice localizado em direção norte do
planeta em que nos encontramos. Lá, segundo se dizia, nossas perguntas seriam
respondidas pelos próprios deuses.
Bem,
anotamos isso como curiosidade em nossos registros e fomos em frente, demoramos
demais naquele planeta, a cordialidade daquele povo fora surpreendente, quando
partimos já sentimos uma certa decepção pois na volta seriam nossos filhos e
netos que passariam por ali, anotamos para a geração futura que em caso de
necessidade encontrariam entre os tetras um povo amigo e cooperativo.
O
primeiro ser humano gerado fora de nosso sistema solar nasceu quando nossa
viagem completou 13 anos, a felicidade foi completa, o jovem casal que gerara
aquela linda menina estava entusiasmado e mostrava com orgulho a rebenta fruto
de seu amor.
A continuação de nossa viagem nos levou a um
planeta paradisíaco, com condições de suportar a vida humana e totalmente
desabitado, somente descobrimos vida animal e vegetal não inteligente, a beleza
do lugar, ao qual demos o nome de PARAÍSO, era tanta que não tive dúvidas em
aceitar o pedido da tripulação e pousar a nave naquele idílico paraíso perdido,
pousamos perto de um lago excepcionalmente belo e piscoso, os deuses do
Universo estavam muito bem humorados quando construíram aquele lugar, a
vegetação
apresentava um colorido tão espetacular, não nos demos conta de imediato do
perigo que havia ali.
O
plano era para ficarmos apenas 02 dias ali, acabamos ficando 02 semanas e se não
desse ordens enérgicas acredito que lá estaríamos até agora.
No
prosseguimento de nosso vôo iniciaram-se os problemas, uma estranha epidemia
foi aos poucos tomando conta de nossa nave, os primeiros afetados foram
exatamente aqueles tripulantes que mais se aprofundaram nos ermos de PARAÍSO,
nossa equipe médica estava as voltas com um mistério, os sintomas iniciavam-se
com uma aceleração acentuada do batimento cardíaco, seguido de espasmos fortes
e vômitos de um líquido negro, a partir do vômito negro os infectados entravam
em um estado catatônico que durava até 04 meses, definhando aos poucos até
morrerem em um estado deplorável, não era raro alguns definharem perdendo
líquidos
e peso até chegarem aos 30 kg, quando então o inevitável acontecia.
Longe
de nosso planeta natal, nos defrontando com uma doença que aos poucos acabava
com os nossos, minha equipe sugeriu a volta ao planeta dos tetras, a esperança
era que esse povo tivesse algum conhecimento sobre a doença misteriosa ao qual
demos o nome de "mal de PARAÍSO ", como a viagem não iria demorar
mais do que 150 dias acabei concordando.
Voltamos
ao planeta e fomos conversar com os líderes locais, a essa altura tinha perto
de 160 tripulantes infectados e já estava com 15 funerais efetuados.
Novamente
fomos bem tratados pelos líderes locais, mas a informação que nos deram minou
nossas esperanças, somente no planeta dos deuses antigos encontraríamos a cura
daquele mal, mas os Tetras se mostravam relutantes em nos fornecer as
coordenadas cósmicas daquele planeta de deuses. Foi com muito sacrifício que
convencemos seus líderes a nos fornecerem essas, somente após mais 04 funerais é
que os tetras nos revelaram esse segredo.
Era a nossa
única esperança, seguimos para as coordenadas indicadas e para nossa surpresa o
que encontramos foi uma gigantesca formação de poeira espacial, decerto o
planeta
dos deuses tetras havia sido detruído por algum cataclismo, mas nossos sensores
teimavam em indicar a existência de uma massa de terra no meio daquela confusão
de poeira e partículas, ficamos alguns tempo apenas nas imediações daquela
nuvem, sem nos aventurarmos a entrar. O avanço da doença que
vitimou mais 05 tripulantes e a contaminação
de mais 20 pessoas me fez tomar a atitude mais desesperada e incorreta de minha
carreira, pelo menos era o que estava pensando, dei ordens para irmos em
frente, e guiados apenas pelos sensores fomos entrando na nuvem que se
descortinava ante nossos olhos.
Nossos
sensores ainda indicavam massa compatível com um planeta á frente, por dias
vagamos naquele lugar, quando estava para desistir e mandar ordens para retorno
o milagre aconteceu, entramos em uma área limpa de poeira e para nossa surpresa
um planeta se destacava nessa área , não possuía nenhuma estrela que o suprisse
de calor, mas nossos instrumentos indicavam temperatura média de 27 graus,
também
foi confirmada a presença de água, oxigênio, vida selvagem e uma gigantesca
cidade que provava definitivamente que alguma raça inteligente havia se
desenvolvido neste planeta, demos ao mesmo o nome de ESPERANÇA.
Bem,
os tetras não nos enganaram, o planeta existe, e se lá não fosse encontrada a
cura do "mal de PARAÍSO " que ceifava minha tripulação não haveria
sobreviventes dentre os nossos.
Enviei
uma equipe de reconhecimento, eles pousaram nas proximidades da cidade e
seguiram
o resto do percurso á pé, o
relatório que nos enviavam deixava a todos maravilhados, ali embaixo era ainda
mais belo do que as paisagens encontradas em PARAÍSO.
Meus
homens foram recebidos por uma comissão dos habitantes daquela cidade, seu
aspecto físico era humanóide, duas pernas, dois braços, cabeça com olhos,
ouvidos, nariz, boca, apenas algumas diferenças eram notadas nas mãos e braços,
todos terminavam em quatro dedos ao invés dos cinco de nossa raça. Eram gentis,
mas o contato era difícil, apesar de poderem emitir sons aqueles seres não se
comunicavam conosco.
Acabei
descendo para junto dos nossos que lá estavam, precisava encontrar algum meio
de fazer com que nossos anfitriões emitissem algum tipo de som para que os
tradutores tentassem fazer a tradução da língua daqueles seres, nem sabíamos se
estávamos no planeta certo.
Desci
em um pequeno jato e me juntei á minha equipe que se encontrava na superfície
de ESPERANÇA, tentei por todos os meios falar com aqueles seres, eles nos
olhavam com compaixão e benevolência, mas era claro, pelo menos para nós, que
não
nos entendiam, ou se entendiam não possuíam vontade de se comunicar verbalmente
com os nossos.
Foi
quando um de meus oficiais caiu ao chão, vitimado por uma forte e constante dor
de cabeça, os nossos médicos iniciaram seu tratamento ali mesmo na superfície
do planeta e para nossa surpresa a dor de cabeça de meu oficial na realidade
era a maneira encontrada pelos "esperantinos" ( como os chamamos )
para iniciar uma comunicação verbal com os nossos, meu oficial na verdade
estava recebendo emanações telepáticas daqueles seres, o cérebro humano tinha
certa dificuldade em reconhecer esse tipo de comunicação, mas os
esperantinos foram
cuidadosos, aos poucos foram "ensinando" aos nossos cérebros
a se tornarem aptos para a comunicação.
O processo
de nosso aprendizado acabou demorando 01 semana, tempo no qual tivemos mais 10
mortes e mais da metade de minha tripulação apresentava sinais do
mal de PARAÍSO.
Finalmente
os esperantinos se deram por satisfeitos com o nosso aprendizado e fomos levados
para dentro da cidade, para a apresentação formal aos líderes daquele povo.
A sede
de governo daquele povo ficava na praça central de sua cidade, para nossa
surpresa as modernas linhas arquitetônicas daquele mundo eram na realidade
muito parecidas com o estilo encontrado nas construções dos gregos antigos de
nosso mundo, mas não havia tempo para aprofundar esse tipo de estudo, minha
intenção era salvar minha tripulação.
Os líderes
esperantinos nos receberam muito bem, e nos contaram sua história. ESPERANÇA,
na realidade era chamado pelos seus habitantes de TRAJOL, que em sua língua
natal significava PAZ, nem sempre se localizara naquela nuvem de poeira cósmica.
Há
muito tempo atrás, os ascendentes deste povo eram uma raça bélica e
conquistadora, sua ciência e tecnologia não encontrava igual na galáxia de
1.600.000 ( hum milhão e seiscentos mil ) anos atrás, os esperantinos foram
então
conquistando e pilhando todos os planetas habitados, inclusive estabeleceram
uma colônia no planeta que denominavam
MARRESH ( em sua língua significava
PERDIDO ), e lá encontraram uma raça que se afeiçoaram e na qual
ficaram por milênios ajudando no seu desenvolvimento, nossa surpresa foi maior
ainda quando através das coordenadas cósmicas do planeta descobrimos que na
verdade eles falavam da Terra. Os esperantinos eram um povo jovem, todos
pareciam estar na faixa de 20 a 30 anos, encontravam-se poucas crianças neste
povo, mas ao falarmos com qualquer um deles percebia-se um saber e experiência
que destoava muito com a suposta faixa etária dos mesmos.
A história
dos esperantinos era fantástica, por milhares de anos conquistaram e
escravizaram uma infinidade de povos, seus feitos militares eram
impressionantes, a tecnologia e ciência superior dava-lhes grande vantagem no
constantes confrontos, isso perdurou até cerca de 600.000 anos atrás, foi
quando os esperantinos se encontraram pela primeira vez com os ORBONS, esse
povo era uma raça de respiradores de metano e amônia, era a primeira vez que um
povo com essas características era encontrada, os primeiros contatos não foram
nada amistosos, mas neste momento as beligerâncias dos dois povos ainda não
chegou a desencadear uma guerra.
Alguns
séculos depois dos primeiros confrontos um ataque dos esperantinos contra um
mundo colonizado pelos orbons desencadeou o confronto, a guerra foi declarada,
e durante milênios as duas raças se confrontaram pelas imensidões da galáxia,
bilhões de vidas foram perdidas, tanto pelo lado dos esperantinos como pelo
lado dos orbons, nunca um confronto destas dimensões sacudiu o espaço, se do
lado dos esperantinos havia uma tecnologia melhor, do lado dos orbons as
incríveis
quantidades de naves e material bélico de que este povo dispunha prolongou a
guerra por milênios sem fim, até que finalmente a técnica superou a quantidade,
a vitória dos esperantinos foi total, nem uma só colônia orbons foi poupada,
esse povo desapareceu da galáxia, pois lutaram até o último homem, sem medo,
esse povo não conhecia o conceito ou a palavra rendição.
Finda
a guerra, algo mudou na sociedade esperantina, a vitória custara bilhões de
vidas, por toda parte destruição, morte, medo, nunca o Universo sofrera tão
séria
destruição.
Algo
mudou.
Nos
planetas dos esperantinos uma corrente filosófica que prezava a vida, a
harmonia, o espírito floresceu, por toda parte o instinto belicoso foi sendo
sutilmente substituído pelos preceitos da nova corrente filosófica,
nem todos concordaram com isso, uma parte da
antiga aristocracia que governava insurgiu-se contra o novo rumo que a
civilização
estava tomando, em poucas décadas o confronto foi inevitável, uma violenta
guerra civil varreu os fragmentos do império que ainda não se recuperara da
guerra contra os orbons, divididos, e enfraquecidos os esperantinos ainda
sofreram o golpe de misericórdia, quando uma gigantesca coalizão de povos
outrora subjugados insurgiu-se contra o domínio
militar.
A
civilização esperantina desmoronou, na guerra civil a vitória foi da corrente
filosófica, do antigo império que chegara a ocupar mais de 40.000 anos luz
somente sobrara o planeta principal, mesmo este ainda era ameaçado pelos
antigos povos subjugados.
Aproveitando-se
de sua tecnologia e ciência superior os esperantinos procuraram um novo lugar
para viver, encontraram aquela nuvem de poeira e fragmentos cósmicos, um
excelente
refúgio, quem iria procurar um planeta, uma civilização, naquele caos? Com o
seu refúgio encontrado o próximo passo foi deslocar o planeta de seu eixo e por
milênios levá-lo até a nova órbita, tecnologia para isso havia. Muitos milênios
depois o planeta finalmente alcançou sua nova órbita, a falta de uma estrela
natural que aquecesse seu mundo foi facilmente resolvida com a construção de
três
centenas de pequenos sóis artificiais que circulavam á volta do planeta.
Então
aconteceu, sem a constante preocupação militar, com seu povo preocupado apenas
com a paz e o espírito a ciência dos esperantinos deu sua melhor contribuição
para esse povo, eles descobriram o segredo da regeneração e conservação
celular, ou seja, um esperantino somente poderia morrer através de morte
violenta ou acidental, a regeneração constante de suas células garantia aos
mesmos a vida eterna, livre de todos os problemas decorrentes do
envelhecimento, a descoberta trouxe como outra contribuição o fim das doenças,
pois o processo de conservação celular dava aos esperantinos imunidade contra
qualquer tipo de doença conhecida ou que viesse a ser conhecida no futuro.
As
informações chocaram a min e a meus tripulantes, atrás da cura de uma doença
que ceifava a vida de minha tripulação, havia descoberto o que sem dúvida era o
maior segredo do Universo, uma raça que enganava a morte, descobríramos a VIDA
ETERNA, muitos da raça humana haviam dedicado sua vida na tentativa infrutífera
de descobrir esse segredo,
milhões, senão
bilhões de seres humanos dariam a própria alma para estar de posse deste
segredo, e lá estávamos, sendo muito bem recebidos pelos autores dessa proeza
sem igual no Universo, sim pois apesar de sabermos que muitas das raças que
habitavam o cosmos podiam viver muito mais que a nossa a morte biológica era
inevitável para todos.
Ao
final da exposição fiquei perplexo, sem reação,
o maior segredo existente me fora revelado, ali, naquele local estava ao
alcance a imortalidade.
Então
foi nossa vez de contar a eles a nossa história, contamos nosso
desenvolvimento, nossa tecnologia, nossos sonhos e desejos, citamos nossos
períodos
negros, citamos nossas infindáveis guerras do passado, citamos o início da
conquista do espaço, falamos de nossos famílias, nossos amigos, dos cientistas
que ficaram na Terra e da missão que nos lançara tão longe de nosso planeta.
A tudo
os esperantinos escutaram calados e atentos, e ao término da exposição falamos
do "mal do PARAÍSO", e do povo dos Tetras que nos revelara a posição
cósmica de ESPERANÇA.
Terminada
nossa explanação, um curioso silêncio imperou por alguns momentos, um dos
líderes
esperantinos se levantou e gentilmente solicitou que todos os doentes fossem
desembarcados, com certeza a ciência deles poderia debelar o mal que assolava
nossa tripulação. Assim foi feito, a esta altura mais da metade da nossa
tripulação estava com sintomas da doença, os que estavam em situação mais
delicada foram transportados em macas antigravitacionais, todos foram bem
recebidos
pelos nossos anfitriões, todos foram alvos de cuidados especiais.
Por um
mês ficamos naquele planeta, e finalmente os últimos dos nossos estavam fortes
e sadios, os esperantinos trataram a todos, não houve um só óbito, mesmo
naqueles que apresentavam-se em estado terminal.
Agradecidos,
preparamos nossa nave para a partida, mas era inevitável que antes disso fosse
colocada a pergunta crucial, qual era o segredo da conservação celular? Esse
era o pensamento de todos na tripulação, fomos tão bem recebidos e tratados por
aquele povo que duvidada que nos negassem essa dádiva, a decisão, como capitão
era minha.
Mas não
perguntei, decidido a continuar nossa missão agradeci nosso anfitriões, recolhi
todos os membros da tripulação e prosseguimos. Todos me perguntaram a razão de
não haver solicitado mais dados sobre o grande segredo que fora descoberto.
Reuni
minha tripulação e dei ordens para que essa descoberta fosse mantida em
segredo, os fatos foram apagados do computador de bordo, era minha prerrogativa
ordenar isso, fui atendido, percebi o rancor e surpresa em meus homens.
Meu
comportamento não poderia ser diferente, afinal ao expormos nossa história aos
esperantinos citamos Hitler, citamos Gengis Khan, citamos Átila, falamos da
crise dos mísseis cubana, falamos que por séculos sem fim a história humana foi
um suceder de guerras, conflitos, embates em fim, somente há 40 dos nossos anos
é que nós humanos conseguíramos findar de uma vez por todas com os conflitos
intermináveis de nossa raça.
Enfim,
não achei que a raça humana estava preparada para a VIDA ETERNA, com esse
segredo os conflitos voltariam, ou então, numa previsão mais sombria seriamos
tal qual os esperantinos do passado, um povo belicoso, guerreiro e indomável
poderiam voltar na pele dos humanos.
Íamos
pelo espaço, rumo a novas descobertas, rumo a um aprendizado, algum dia, quem
sabe, alcançaremos o grau de desenvolvimento dos esperantinos de nossos dias, e
aí sim, podermos pedir que partilhem conosco esse segredo, mas tenho certeza,
esse dia somente chegará daqui a muitos, muitos milênios.
A GALÍPOLI
segue firme no espaço, nossa missão de 100
anos tem ainda 85 anos para ser finalizada....