AS IRMÃS

Adriana Simon

        Daniela olhava para sua irmã Roberta, admirando-a. Sempre quis ser como ela. Ela era tão decidida, tão segura, tão positiva... Todos gostavam dela. Sabia, é claro, que também gostavam de si, mas a admiração por Roberta fora sempre maior. Não sentia ciúmes, muito pelo contrário, sentia mais orgulho do que qualquer pessoa. Era sua maior fã, e se espelhava nela para tudo o que fazia. Quando Roberta estava com vontade de algo, era suficiente para que ela também ficasse, e quando Roberta se entristecia, ela também sentia o mesmo.

        As duas irmãs eram literalmente inseparáveis e se divertiam muito juntas, pois gostavam das mesmas coisas. Costumavam brincar e correr pelo gramado do jardim e pela estradinha de acesso à sua casa. Também jogavam bola, viam televisão, liam e tudo mais. Moravam numa boa casa na montanha, cercada de muito verde. Sua mãe as levava de manhã para o colégio e as pegava à tarde. Quando chegavam, tomavam banho e faziam as lições, ambas eram muito aplicadas, e quando uma delas tinha alguma dúvida na matéria, a outra prontamente ajudava.

        Naqueles tempos, era muito difícil conviver com as pessoas e às vezes Daniela se sentia incompreendida por todos. Seus pais eram carinhosos, mas deixavam transparecer sua preferência por Ricardo, o caçula. A única pessoa que compartilhava de seus anseios, de suas alegrias, tristezas e tudo o que sentia, era a irmã.

        Roberta notou o olhar pensativo da irmã e sorriu. Sabia ser fundamental para ela, assim como ela era para si. Dani era tranqüila, e sempre a apoiava. Ela era a força de que precisava, a racionalidade, os pés no chão. Se não fosse assim, com certeza tudo seria muito diferente. As duas se completavam, nunca se separariam, por mais que algumas pessoas assim o quisessem.

        Uma determinada noite, Daniela acordou sobressaltada. Deitada na cama, olhou pela janela e viu uma forte luz, azulada. Cutucou Roberta, sentindo um arrepio de medo subir pela espinha:

        — Acorda, Roberta.

        Roberta resmungou sonolenta:

        — O que é que foi, Dani?

        — Olha pela janela — apontou Daniela.

        Roberta se virou na direção indicada e viu a luz. Esfregou o rosto e olhou novamente, não acreditando no que via. Ficou observando parada, pensando.

        — O que vamos fazer, Roberta?

        — Bem, acho que o jeito é ir olhar de perto — disse Roberta, arrumando o cabelo.

        Daniela olhou assustada para a irmã, mas não tinha o que discutir, qualquer desejo de Roberta era para ela uma ordem. As duas se levantaram, colocaram o pegnoir e desceram as escadas, pé ante pé, com o máximo cuidado possível para não acordarem os pais. A escada, forrada com carpete marrom, ajudava a abafar o ruído. Roberta pegou as chaves que ficavam em uma caneca comemorativa de chopp, sobre a estante. Abriu a porta e saíram para o jardim.

        — Acho que a luz está menor — disse Daniela.

        — Olhe com mais atenção, está mais longe e não menor — constatou Roberta.

        Elas se encaminharam na direção da luz, se aproximando cada vez mais, atraídas pela curiosidade de saber o que era aquilo. Chegaram tão perto que ficaram sob a luz. Cada vez mais, a luz as envolvia. Era uma luz azulada, dando a impressão de ser fria, mas não foi isto que sentiram. Muito pelo contrário, a temperatura era morna, aconchegante e provocava uma certa sonolência. A luz, ao alto, foi puxando-as para cima, vagarosamente. Aos poucos vislumbraram um disco voador no céu. Devido à sonolência e à suavidade com que eram levantadas do chão, elas não se apercebiam do que estava acontecendo. Chegando ao disco, foram recebidas, calorosamente. Estavam tontas de sono e não conseguiam avaliar direito como eram aquelas pessoas. Foram depositadas gentilmente sobre uma maca e dormiram. Daniela, que tinha o sono mais leve, acordou primeiro, e acordou sua irmã.

        — Vamos, levante. Será que é sempre tão difícil acordar você? — Daniela falou.

        — Ah, deixa eu dormir. Que horas são? — Balbuciou Roberta.

        — Vai, acorda, quero saber que lugar é este — disse Daniela, balançando a irmã.

        Roberta abriu os olhos, desnorteada.

        — Nossa, eu estava dormindo tão bem que até esqueci onde estava. Vamos tentar descobrir o que aconteceu...

        Elas se levantaram da cama, caminhando pela saleta. O chão era escuro, extremamente liso e refletia a imagem delas. Ficaram nas pontas dos pés para olhar através da escotilha. Encantadas, elas viram a Terra do tamanho de uma bola de futebol.

        — Não é lindo, Dani?

        — É maravilhoso. O que será que estamos fazendo aqui?

        — Isto eu não sei, mas não estou com medo, não sei explicar por que. As pessoas que nos pegaram nos trataram tão delicadamente, que só posso imaginar que desejem nosso bem.

        — Tenho a mesma sensação. Só fico triste pelos nossos pais, sei que vão sentir nossa falta...

        — Você tem razão, mas acho que será melhor assim. Afinal de contas era muito difícil cuidar da gente.

        — Olha só este monitor. São eles! — Notou Roberta.

        O monitor, sobre uma bancada, focalizava os pais das meninas no jardim da casa.

        — Realmente estão tristes, mas também parecem um pouco aliviados — continuou Roberta.

        — Foi o que eu disse, nós éramos um fardo muito pesado para eles. E eles têm o Ricardo. Logo, logo vão superar tudo isso.

        — Você parece tão calma. Na verdade eu também estou. Estou me sentindo tão leve, tão segura, como nunca me senti antes.

        — Bem, só nos resta relaxar e esperar para ver o que vai acontecer.

        Após alguns minutos, a porta se abriu deslizando, e uma pessoa entrou no recinto, falando:

        — Finalmente vocês acordaram. Estávamos esperando ansiosamente por este momento.

        Daniela arregalou os olhos assustada:

        — Você... Você tem...Tem... — trêmula, não conseguiu terminar a frase.

        As duas cabeças do humanóide sorriram.

        — Não sei porque vocês estão tão assustadas, não há motivo para isto.

        As duas irmãs siamesas se olharam e sorriram.

Realmente não havia motivo.