Clube de Leitores de Ficção Científica

Informativo Mensal

 

Maio 2001

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Abdução na MPB

 

A cantora paraibana Elba Ramalho já foi abduzida por alienígenas!

 

"Fui chipada", afirmou a artista durante uma palestra na 11ª Conferência de Ufologia em abril passado. "Os ETs implantaram um chip em meu corpo, que só foi retirado com a ajuda de seres celestiais ultra-supra-celestiais."

 

Este deve ser o primeiro caso de abdução - nome que se dá ao rapto e molestação física feita por alienígenas - de que se tem notícia na MPB.

 

 

Anúncios FCianos em Portugal

 

Aqui no Brasil temos o comercial do novo carro da GM parodiando 2001. Há algum tempo atrás tivemos a propaganda de um molho de tomate que copiava aquela cena do Blade Runner em que o Deckard controlava seu equipamento audiovisual pela voz. Agora nos chega a notícia de que em Portugal está a passaire uns anúncios internacionais da Visa.

 

"O Futuro aceita VISA", é o nome da campanha, e tem vários anúncios, todos eles FCianos. O último é um andróide que vai a casa de uma boazuda entregar qualquer coisa e sai de lá a fumegar com o "pagamento"...

 

 

Admirável Resenha

por Roberto Causo

 

RUY TAPIOCA VAI AO FUTURO PARA CONHECER O BRASIL DO PRESENTE.

 

(Opinião de Causo sobre Admirável Brasil Novo de Ruy Tapioca. Ed. Rocco, 2001, 283 páginas.)

 

No início do século 21, Ruy Tapioca tenta investigar o futuro do Brasil nos próximos 50 anos, algo a que poucos escritores brasileiros de ficção científica jamais ousaram fazer. Ambientado principalmente no Rio de Janeiro, "Admirável Brasil Novo" enxerga um futuro decadente para o país: poluição e desemprego são o cotidiano; o Presidente da República é um bispo evangélico "com nome de dupla caipira", Miron Marian, e o nepotismo está institucionalizado; os partidos políticos estão divididos entre "conformistas e inconformistas", com o poder nas mãos do primeiro grupo (como sempre); a cultura trash brasileira alcança o seu grau máximo, com uma TV sensacionalista e vulgar; e o nosso futebol é um dos piores do mundo.

 

O protagonista é o jornalista carioca Lázaro das Dores. Fiel ao seu nome, Lázaro é um exasperado que não cansa de praguejar contra as mazelas da sociedade brasileira. Com 45 anos, casado e com duas filhas (uma delas aspirante a estrela do "bundaxé", uma das novas danças do futuro), tem como amante Astrid Junqueira, grande nome do "romance compacto minimalista" brasileiro. Com Astrid, Ruy Tapioca enfim integra a literatura brasileira aos argumentos da arte conceitual: o último livro de Astrid chama-se ! e tem 100 páginas em branco, para convidar o leitor a "também ser autor, in totum, de uma obra literária!" Já o seu protagonista, apesar de nascido em 2000, é mais um homem do século 20, afeito à leitura de Graciliano Ramos.

 

Aparte tais momentos metaficcionais que oferecem crítica mordaz à qualidade, digamos, "etérea" da literatura brasileira contemporânea, o romance é claramente uma sátira política e social, direcionada ao momento presente. A prosa excessiva, preciosista e arcaizante de Tapioca (também presente em seu primeiro romance, o premiado "A República dos Bugres"), bem como a sua herança intelectual, remetem a narrativa também ao passado. Apesar do título, "Admirável Brasil Novo" dialoga menos com o clássico da ficção científica "Admirável Mundo Novo" (1932), de Aldous Huxley, do que com "Brasil, País do Futuro", de Stefan Zweig, fazendo o contraponto entre um Brasil sonhado e o país cronicamente inviável que Tapioca descreve.

 

A linha narrativa é fraca, porém. Os políticos inconformistas do "Partido Ecolaboral" (fusão dos verdes com os petistas) lutam para se manterem em pé, quando são surpreendidos, tanto quanto os conformistas, por um anúncio feito pela União Européia: só vão liberar o empréstimo bilionário que pode tirar o Brasil da falência (ou financiar a próxima campanha do bispo Miron Marian), se o vice-presidente pertencer ao Partido Ecolaboral. Nesse futuro, o vice tem o controle de um Banco Central independente. O homem em questão é um político íntegro, António Péricles, elabora um plano de dez itens, capaz de tirar o país do precipício e restituir a dignidade do povo. Tudo isso é insuportável para os conformistas, sem contar o fato de Péricles ser negro e deficiente físico. Mas Marian aquiesce, e por algum tempo o autor flerta com a idéia de que o homem certo no lugar certo pode fazer a diferença.

 

Como toda sátira que se preze, é preciso haver uma guinada trágica ao final, e é isso o que Ruy Tapioca nos dá.

 

A sátira é um gênero relativamente difícil. Sua estratégia é levantar o que há de bizarro ou censurável na sociedade, retirando o leitor do "conformismo" de pensar que a realidade em que vive é "normal" e inalterável. Os excessos são bem vindos nessa tarefa, e as melhores sátiras são as que lidam melhor com uma "economia de excessos" que incluem linguagem, enredo, e caracterização dos personagens. O estilo de Ruy Tapioca lhe favorecem na criação de uma linguagem excessiva, mas que é partilhada por todos os personagens.

 

Políticos da esquerda e da direita, intelectuais e homens do povo, todos falam com o mesmo tom discursivo e exasperado. Como o autor faz pouco uso da técnica do ponto de vista, precisa recorrer constantemente aos diálogos cansativos para avançar o romance. No mesmo sentido, o enredo tem pouco a contribuir. E se o estilo remete ao passado, a imaginação "futurista" de Tapioca falha em dar ao leitor o vislumbre de um novo e admirável mundo brasileiro, que nos pareça tangível mesmo em seus problemas agravados. O seu Brasil do futuro é apenas aquele que nós já desconfiamos que de deva existis, por trás das nossas pretensões de fazer parte do Primeiro Mundo e alcançar a justiça social. Desequilibrado, "Admirável Brasil Novo" é como um passeio no zoológico — um zoológico que não oferece nada além dos bichos já conhecidos.

 

 

Martinho descobre Portugal

 

Mais uma vez um autor brasileiro foi agraciado com o primeiro lugar num concurso português de FC&F. Desta vez o vencedor foi Carlos Orsi Martinho, no concurso de contos de horror patrocinado pelo grupo de aficionados portugueses, o "Turno da Noite" com o conto "Eu Amo a Minha Mulher".

 

Outra autora brasileira que também teve bom desempenho foi Simone Saueressig, que recebeu menção honrosa no mesmo concurso, com o conto "A Sombra".

 

A autora portuguesa Ana Cristina Luz - que esteve no Brasil para o lançamento de um conto há meses - também recebeu menção honrosa pelo conto "Condução Perigosa".

 

 

Vários Causos

 

. André Carneiro apareceu no número 1 da revista Quaisquer (outono de 2000) com um poema erótico.

 

. Foi distribuída a revista Livro Aberto N.° 19, com a coluna "Ficção Científica e Fantasia", mantida por Roberto de Sousa Causo. Este é o terceiro artigo publicado na coluna, e aborda os três livros de FC e fantasia mais vendidos em 2000, numa tentativa que quebrar o mito de que FC não vende no Brasil: À Espera de um Milagre, de Stephen King; Harry Potter e A Pedra Filosofal, de J. K. Rawling; e Linha do Tempo, de Michael Crichton. Também são mencionados o Prêmio Argos e seus ganhadores. Há também uma série de notas que mencionam as antologias Lugar de Mulher É na Cozinha e Intempol.

 

. A Rede Global Paraliterária foi mencionada por Bruce Sterling em sua entrevista concedida à revista norte-americana Locus no. 483, de abril de 2001. Sterling é co-moderador a lista, com Roberto de Sousa Causo.

 

. A novela fantástica Síndrome de Quimera, do nosso amigo Max Mallmann, é resenhada no caderno "Idéias/Livros" de 14 de abril. O caderno pertence ao Jornal do Brasil e o resenhador é Flávio Carneiro, que avalia bem o livro. Na mesma página (4), a Profa. Márcia Wanderley resenha Estranha Aparição, de Luiza

Lobo, novela que aparentemente sustenta alguns paralelismos com Frankestein, de Mary Shelley. Os dois livros resenhados saíram pela Rocco.

 

. O "Jornal de Resenhas", encarte da Folha de São Paulo de 14 de abril, traz resenha de Infinito em Todas as Direções, de Freeman Dyson, um intelectual norte-americano da área das ciências exatas (até isso eles têm). Dyson é fonte de inspiração para muitos escritores de FC do Primeiro Mundo, que buscam nele idéias inovadoras ou justificativas científicas para as suas idéias. O livro O Ó: A Ficção da Literatura em "Grande Sertão: Veredas", de João Adolfo Hansen (USP), também é resenhado nesse número.

 

. O "Folha Ilustrada" do dia 21 de abril faz resenha do livro de Álvaro Alves de Faria sobre Jorge Luis Borges, Borges: O Mesmo e o Outro (referência ao conto "Borges e Eu", do próprio contemplado). Trata-se de uma entrevista que ficou na gaveta por mais de vinte e cinco anos, e que pegou Borges num momento peculiar de desilusão. Nela o argentino se revela um direitista, cheio de respeito pelos militares, que chama de "cavalheiros, senhores bem-intencionados". Também afirma seu desprezo pela língua espanhola e pela América Latina, e revela sua frustração em não ter recebido o Nobel de Literatura. Também afirma que "a raça negra nada fez… Se não existissem negros, a história do mundo não mudaria em nada". E por aí vai. Depois que o inglês John Carey mostrou o lado machista, reacionário e fascistóide dos grandes nomes da intelectualidade européia, em Os Intelectuais e as Massas, agora Álvaro Alves de Faria, um fã de Borges, detona com o seu ídolo.

 

. Ataíde Tartari bancou Borges na coluna "Arte pela Arte" do Jornal da Tarde do dia 7/4, sábado, fazendo a resenha de um livro inexistente, Como Trair a Esposa para Salvar o Casamento. O título do pseudo-livro de auto-ajuda já diz tudo.

 

. Em outra crônica para o JT, Saudades de 2001 — esta publicada no domingo, 29 de abril — Ataíde fala, entre outras coisas, do filme Blade Runner, comparando seu backdrop cyberpunk à São Paulo em que vivemos. Essa observação é resultado de várias conversas mantidas nas reuniões do CLFC. Outro comentário incluído na crônica — este sobre o filme 2001 e o ano de 1968 — foi inspirado nas palavras do Alfredo Keppler, que tem lembranças marcantes da época em que o filme do Kubrick foi lançado. O texto veio acompanhado de uma foto do filme com a seguinte legenda: "Blade Runner: o futuro do espaço urbano, visto sem otimismo."

 

. Ainda em abril, o caderno "Prosa & Verso" do O Globo trouxe artigo de Affonso Romano de Sant’Anna, "Tolkien vs. Potter". O primeiro livro da trilogia de Tolkien, aliás, chegou a entrar na lista dos mais vendidos do "Prosa & Verso". Ainda nesse caderno, resenha do livro de Haruki Murakami, Caçando Carneiros (Estação Liberdade). O autor é um fabulista pós-moderno, que já apareceu em antologias de fantasia.

 

. A revista Quark tem investido em propaganda, com anúncio na revista de história em quadrinhos Canalha. Quem adquirir a fita VHS da Fox, X-Men, também vai encontrar nela uma filipeta da Quark anunciando o filme Planeta dos Macacos.

 

. Para pensar: Richard Bernstein, crítico do The New York Times, quando perguntado quais eram as grandes obras da literatura que ele nunca havia lido: "OK, eu nunca li Ulysses [de James Joyce] do começo ao fim, mas imagino que ninguém o tenha feito, incluindo a maioria dos escritores e scholars que o declararam como sendo o maior livro de língua inglesa do século, na lista da Modern Library ano passado. Eu li as primeiras cem páginas pelo menos três vezes, e então, sentindo falta de uma história, nunca fui além. O que mais? Proust. Já li O Caminho de Swann, tenho a felicidade de dizer, mas os outros volumes estão lá na minha estante, esperando a restauração das viagens transatlânticas por mar. Li muito pouco das obras dos últimos dez ou mais vencedores do Prêmio Nobel de Literatura."

 

 

Sociais

 

O 2001 do Humor

 

Marcado para o dia 10 de maio uma noite de autógrafos com coquetel e exposição de cartuns na Praça do Carmo, centro de Sto André. O livro em questão é 2001, Uma Odisséia no Humor, dos cartunistas Agê, Alecrim, Antonio, Eder, Bira, Cerito (o "nosso" Cesar), Eder Santos, Edgard Guimarães, Fred, Gilmar, Heringer, Lailson, Marcio Baraldi, Más, Mastrotti, Moretti, Regisclei, Rocco, Ronaldo Cunha Dias, Samuca, Tako X e Zappa.

 

 

A Reunião de Abril

por Humberto Fimiani

 

Nossa reunião de abril, apesar da frequência baixa, foi muito produtiva. Tivemos o lançamento do no. 50 do fanzine Juvenatrix, com a presença de seu editor Renato Rossatti. Quem é vivo, de vez em quando aparece.

 

Foi exibido o vídeo de Aldeia dos Amaldiçoados, graças ao nosso sócio cinéfilo Marcello Simão Branco.

 

No já habitual jogo de snooker, o filho do Antonio Carlos deu um banho nos mais velhos. Que vergonha!

 

Na noite da pizza, começamos com duas torradinhas de alho e adivinhem como terminamos? (Quem pensou na Aliche, ganhou um prêmio.)

 

 

Próxima Reunião

 

A reunião de maio será no sábado, dia 26, na R. José Paulino 7, junto ao metrô Luz, a partir das 15:00 hs, com palestra de Fritz P. Bendinelli sobre o escritor H.P. Lovecraft.

 

Às 20:00 hs teremos a Noite da Pizza no Presto Pizza, R. Esmeralda, 39 - Aclimação.

 

 

Nossos Aniversariantes

 

Data  CLFC No.

Maio

5        5        Walter da Silva Machado

8        33      Rubenildo Pithon de Barros

8        469    Carlos Eugenio Baptista

9        47      André Carneiro

10      372    Daniela de Almeida Bittencourt Moraes

16      85      Fábio Fernandes da Silva

19      114    Ivo Luiz Heinz

23      293    Rogério Amaral de Vasconcelos

25      204    Alfredo Franz Keppler Neto

28      17      José dos Santos Fernandes

Junho

13      294    Fernando Dominguez Castro

13      433    Marcel Antonio Bonatelli Cardim

16      470    Josiel Norato

17      31      Cesar R.T. Silva

20      362    João Batista Melo dos Santos

27      256    Marco Antonio Costa de Araujo

 

 

 

 

Este Informativo foi editado por Ataíde Tartari   atartari@ig.com.br

O CLFC pode ser contatado pela Caixa Postal 2105, Ag. Central, S.Paulo-SP, CEP 01060-970, e acessado em www.members.tripod.com/~CLFC Presidente: Gerson Lodi-Ribeiro   glodir@unisys.com.br